terça-feira, 23 de março de 2010

A preto, branco e tinto


opinião: Jorge Lami Leal

A sociedade moderna não pára para pensar. Age em constante conflito entre o pouco tempo para os amigos, para o trabalho, para a família, para ler aquele livro, para assistir a uma peça de teatro, para relaxar e não fazer nada. Perdemos na vida diariamente oportunidades e momentos, porque estamos demasiado cansados, depois de um dia de trabalho.

Vivemos a uma velocidade tal, que deixamos já de perceber ou ter noção que nos fazem falta momentos como os que antigamente apreciávamos, com os amigos, com ou sem uma desculpa, aproveitando simplesmente todos os dias com uma intensidade que hoje não conseguimos dar, relegando para o fim-de-semana, quando muito, muitas das actividades sociais, compartimentando a semana para trabalhar, chegar tarde a casa, tratar dos filhos, preparar o dia seguinte… e cair redondo no sofá, que ampara o resto da nossa pouca vontade seja para o que for.

Os mais novos – e tantas vezes os menos novos – usam a noite para uma diversão vertiginosa, mas virtualmente sem comunicação, sem convívio, com a música alta e o mau álcool a conduzir as vontades e os ânimos, muitos SMS enviados, poucas palavras trocadas. Mas num qualquer ponto da nossa existência podemos parar para sentir um pouco daquilo que fomos. Considero por isso que, em tempos idos, no século das fotos a preto e branco, dos chapéus de feltro e das bengalas com punho de prata, quando o nosso mundo não esgotava o tempo disponível à mesma velocidade da paciência perdida… sabia-se viver e conviver. Aproveitavam-se os momentos e as conversas, mais calmas ou acaloradas, em torno de uma mesa de café, de um copo de vinho... de amigos ou conhecidos.

A vida nos centros históricos das cidades está a perder-se. Qualquer esforço da nossa parte para alterar, ainda que fugazmente, este destino é bem-vindo. Juntar por isso um tradicional café tavirense, num ainda mais tradicional centro histórico, com conversas e vinho é algo construtivo e muito mais do que uma boa desculpa para passar um fim de tarde diferente. Este produto tão português, genuíno, feito com tradições seculares e que ajudam tão bem à condução das conversas e trocas de ideias, assume hoje uma forma diferente de estar e de parar no tempo, na boa acepção do conceito.

”Tavira Wine Experience” é, por isto tudo, algo mais do que simplesmente experimentar vinhos portugueses ao copo, é até mais do que relaxar um par de horas e conviver, com amigos ou com as pessoas da mesa do lado, se o assunto porventura interessar. É também mais que animar Tavira… é fazer das quintas-feiras, sempre que possível, uma pausa e um momento de regresso àquele passado que não vivemos, mas podemos agora também aqui beber… bebe-se por isso muito mais do que vinho, vive-se e convive-se. Simplesmente…

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